terça-feira, dezembro 18, 2012

O FIM DO MUNDO -


O fim do mundo

O fim do mundo para Marquinhos era todo dia, todo dia que ele chegava em casa e brigava com a pessoa que ele mais gostava. O mundo caia sobre sua cabeça, era o fim mesmo, que o 21/12/2012 fosse à vera, não aguentava, tampouco entendia o porquê de tal situação.
Muitas vezes o silêncio era o seu refúgio mais próximo e mais aceitável, contudo nem sempre o mais seguro, dentro do seu refúgio era descoberto e tudo vinha à tona; brigas e mais brigas, palavras duras. Claro que aquilo para ambos era o momento, não passaria daquilo, como nunca passou, mesmo nas discussões mais pesadas jamais ficaram sem se falar.
Confuso, as vezes Marquinhos pensava que a pessoa que ele mais gostava precisava daquele momento de conflito, não que pudesse servir de alento para sua dor, mas talvez seria a forma dela dizer que se preocupava com ele, que a rispidez no trato, fosse essa falta de amor na criação, a falta de carinho, de compreensão, mas para ele era um martírio impossível de aguentar.
Qualquer motivo era motivo para uma briga, uma panela no fogo, o som tocando, a tv ligada, a escola, o trabalho, os livros, a namorada, os vizinhos etc. Não era normal uma vivência dessas, pensava seriamente em sair de casa, alugar uma casa na vila, um barraco na favela que fosse. Ao mesmo tempo pensava que não poderia deixar a pessoa que ela mais gostava assim dessa forma, sentia que seria um golpe pesado para ela.
Um dos seus maiores dilemas era não entender o porquê da situação, as brigas na verdade era o de menos. Na sua mente era clara a ideia de que tudo tem jeito, só não há jeito pra morte, o que incomodava era não saber a verdadeira razão para toda a situação, pois sua conduta sempre esteve dentro da normalidade, nada de drogas, nada de envolvimento com crime, só de vez em quando tomava uns tragos, mas nada além de disso.
Sempre correu pelo certo, trabalhador sempre chegava junto nas despesas e nas contas, procurava não deixar faltar nada em casa. Pensava nas energias negativas que as brigas certamente atraem, e como consequência a tristeza e no fim das contas depressão, que abre caminho para diversas outras situações desagradáveis. Pelo menos nessa última situação não havia acontecido para ele.
Sair de casa, não seria a coisa mais certa a fazer no momento, por outro lado saberia que não iria acabar tão cedo as discussões e também não conseguia mais lidar com a situação, sua tristeza aparente era escondida; muitas vezes camufladas, com sorrisos dolorosos, muitas vezes com silêncio, ele sabia que o silencio era cruel, que não era digno se fazer isso, mas não havia outra solução.
Com muita paciência Marquinhos conseguia contornar, não raro as ocasiões que ele mesmo se via com os olhos marejados devido a todos os ocorridos. Consequentemente ele pensava na pessoa que ele mais gostava, que possivelmente sofria também, quiçá muito mais do que ele. Quantas angustias não estariam disfarçadas naquelas palavras duras e sem sentido, quantas tristezas armazenadas que buscavam uma saída, alento, paz? Quantas e quantas?
E era mês de dezembro, natal, réveillon e tudo mais, compras de presentes, confraternizações, falsa amizade e muita hipocrisia. Clima “natalino” no ar, época que trazia mais tristeza ainda, pessoas supostamente felizes fazendo compras e mais compras, shoppings centers lotados e Marquinhos, nunca ganhou presente tampouco deu, a vida era assim, seca, sem santa ceia, churrasco, cerveja, espumante, sem nada. Vivia desse jeito, “sem feliz aniversário, páscoa ou natal”. Isso era o seu fim de mundo, as profecias maias eram só profecias, seu mundo era gelado, coração e mente frios, angústia pura.
Mundo que se terminasse para Marquinhos seria alivio, acabaria com sua dor e a com a dor que ele proporcionava, a sua dúvida meio que falava por si só, não brigava por raiva, por ódio, sentimentos que não existiam, brigavam pelo fato de serem humanos diferentes, com problemas extremos, neuroses e psicoses, problemas diversos.  Pouca compreensão. Pra quê compreensão? No outro dia estariam se falando na boa, como se nada tivesse acontecido. Poderia ser melhor a convivência, ser normal como de muitos por ai, as risadas eram escassas, sentia de um pouco mais de alegria, queria conhecer mais a pessoa que ele mais gostava. Ouvir histórias de tempos remotos, compartilhar momentos felizes, pedir conselhos de como tratar com a namorada, apresenta-la, se reunir ao redor da mesa no almoço de domingo.
Marquinhos sentia falta de coisas que nunca teve, sentia saudade de um amor que não vingou; ele era crente que tal amor existia, mas era uma flor que não desabrochava. Um jardim inabitado. Sabia que o amor existia escondido dos raios solares, escondido nas trevas dos corações gelados, sabia que o amor existia por meio dos cuidados, da preocupação, meio sem jeito, talvez ambos não soubessem como expressar os sentimentos, sofria muito pela rispidez das palavras e das ações, pelo fato da pessoa que ele mais gostava ser sua mãe, sua genitora, que lhe havia dado vida, essa era sua dor, seu fim do mundo diário.

Fanti Manumilde
D'grand'stilo

terça-feira, dezembro 04, 2012

MÃES DE MAIO, MÃES DO CÁRCERE – A PERIFERIA GRITA (Nós por Nós, São Paulo, 2012)MÃES DE MAIO, MÃES DO CÁRCERE – A PERIFERIA GRITA (Nós por Nós, São Paulo, 2012)



MÃES DE MAIO, MÃES DO CÁRCERE – A PERIFERIA GRITA (Nós por Nós, São Paulo, 2012)

Coletiva de Imprensa + LANÇAMENTO nesta Quarta-Feira (05/12), a partir das 15:30hs no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rêgo Freitas, 530 - Sobreloja)
Mais informações: 13-8124-9643 (Débora Maria) ou 11-98708-7962 (Danilo Dara)
Coletiva de Imprensa nesta Quarta-Feira (05/12) a partir das 15:30hs no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rêgo Freitas, 530 - Sobreloja)
Seguiremos, no mesmo dia, a partir das 18:00hs, ali do lado para o SESC Consolação – Teatro Anchieta (Rua Dr. Vila Nova, 245 – Consolação, São Paulo), junto ao lançamento do Relatório Anual de DH da Rede Social de Direitos Humanos.
Ao longo das próximas semanas ocorrerão diversas outras atividades de lançamento/apresentação do livro (CONFIRAM ABAIXO).

SOBRE O LIVRO:
Licença pra chegar. Escrevemos a tod@s interessad@s que nosso movimento Mães de Maio, uma rede de mães, familiares e amig@s de vítimas da violência estatal aqui no estado de São Paulo, lançaremos a partir desta quarta-feira (05/12), às 15:30hs, o nosso segundo livro: “Mães de Maio, Mães do Cárcere – A Periferia Grita”.
Desta vez com prefácio do guerrêro Dexter - Oitavo Anjo, com Ilustrações do grafiteiro-parcêro Beto / Gente Muda, e com toda a Arte de Silvana Martins, a exemplo de nosso primeiro livro, “Mães de Maio – do Luto à Luta” (Nós por Nós, São Paulo, 2011), este também contará com 3 seções temáticas de textos autorais:
A primeira parte, “Grito Familiar”, reúne o relato direto de mais de 20 familiares e amigos de vítimas diretas da violência de agentes do estado desde os Crimes de Maio de 2006. Além de Mães de vítimas dos Crimes de Maio, como Débora Maria, Vera Lúcia e Maria Sônia, há relatos de familiares de presos e presas, além de testemunhos diretos de mães de vítimas da Febem, como Solange Prudes, e também do Massacre do Carandiru, reunidos pela jornalista Juliana Pereira.
A segunda parte autoral do livro, “Grito Poético”, reúne letras, contos e poesias de cerca de 40 importantes poetas-parceiros e referências inspiradoras de nosso movimento. Guerrêros e Guerrêras como a poeta Cidinha da Silva ou o poeta Sérgio Vaz (Cooperifa), o rapper Eduardo (Facção Central) ou a cordelista Salete Maria (Bahia), o grupo de rap Racionais MCs (SP) ou o grupo Autoras do Fato (Goiânia), o rapper Kaskão (Trilha $onora do Gueto), o poeta Armando Santos (Mães de Maio), os sambistas do Cordão da Mentira (Everaldo, Selito e Thiago) ou a ex-presa política Rose Nogueira, colocando em versos sua visão sobre nós. Enfim, são tantos parceiros que, por falta de grana e de tempo pra correr atrás, tivemos inclusive que fazer o triste trabalho de deixar alguns importantíssimos parceiros e parceiras de fora... Além disso, o livro ainda presta uma devida homenagem póstuma à rapper Dina Di (Visão de Rua), por acreditarmos que sua trajetória tem tudo a ver com a temática do livro, e a nossa caminhada cotidiana.
Na terceira seção da obra, “Grito dos Parceiros”, reunimos textos de outros coletivos e/ou parceiros que somam com a nossa luta cotidianamente, nos quatro cantos do Brasil. Então há textos da Rede Contra Violência (RJ), do guerrêro Hamilton Borges Walê (Quilombo Xis – Bahia), da Pastoral Carcerária Nacional, do escritor Alípio Freire, dos jornalistas André Caramante e Tatiana Merlino. Além disso ainda tratamos, ao longo de toda a obra, de outros tristes massacres ocorridos ao longo deste ano de 2012: do Pinheirinho (tratado em poesia por Paulo Barja) à favela do Moinho (que homenageamos na apresentação e numa poesia de Hélber Ladislau), do massacre Guarani-Kayowá (por Spensy Pimentel e Joana Moncau), até uma referência ao desastre contínuo na região da Palestina (em texto de Sâmia Gabriela Teixeira). Sempre estabelecendo o contexto periférico atual de São Paulo, “nossa Faixa de Gaza”.
Finalmente, há a seção “Luta das Mães de Maio”, que reúne 7 documentos históricos importantes dos últimos meses de luta intensa de nosso movimento. São textos para ficarem registrados na história, num livro que tem o mesmo intuito.
Acreditamos que, malgrado todo o cenário adverso pra gente finalizar este livro – em plena intensificação do massacre contra a população pobre, preta e periférica em todo estado de São Paulo, conseguimos fechar um importante Grito Literário e Histórico, buscando deixar registradas nossas Verdades e contribuir para a luta incansável por Justiça e Paz em São Paulo e em todas as quebradas do Brasil e do Mundo.
As trabalhadoras e os trabalhadores merecem Justiça e Paz, e é para esta transformação social coletiva que nosso livro busca humildemente contribuir.
Mais informações: 13-8124-9643 (Débora Maria) ou 11-98708-7962 (Danilo Dara)

MÃES DE MAIO, MÃES DO CÁRCERE – A PERIFERIA GRITA (Nós por Nós, São Paulo, 2012)

LANÇAMENTOS JÁ CONFIRMADOS:
-- Quarta-Feira (05/12) - COLETIVA DE IMPRENSA - A partir das 15:30hs no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rêgo Freitas, 530 - Sobreloja)
com a presença especial de Mães da Palestina junto às Mães de Maio
-- Quarta-feira (05/12) - A partir das 18hs, Lançamento junto ao Relatório Anual de DH da Rede Social 2012
Horário: 18h. às 21:45h.
Local: SESC Consolação – Teatro Anchieta
Endereço: Rua Dr. Vila Nova, 245 – Consolação, São Paulo
Programação:
- Exposição de fotos de comunidades Indígenas Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, organizada pela Associação Juízes para a Democracia
- Exposição virtual de fotos de João Ripper
- Concerto musical com Ivan Vilela
- Apresentação do Relatório Direitos Humanos do Brasil 2012
- Homenagens:
Luta pela Verdade, Memória e Justiça: Angela Mendes de Almeida e Regina Merlino 
Lançamento do livro e Homenagem às Mães de Maio: Débora Maria da Silva
– Confraternização com coquetel 
Contamos com sua presença!
-- Sexta-feira (07/12) - A Escola do Parlamento da Câmara Municipal promoverá no dia 7 de dezembro, a partir das 19h, o "Encontro Consciência Negra", que contará com um debate sobre a violência contra a juventude negra na cidade de São Paulo.
Farão parte da mesa de discussões integrantes da Secretaria Nacional da Juventude, Movimento Mães de Maio, Grupo de Trabalho da Campanha contra o Genocídio da Juventude Negra, Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal e Fórum Hip Hop de São Paulo.
A programação do encontro ainda contará com uma manifestação cultural do Fórum Hip Hop.
SERVIÇO
Encontro Consciência Negra
Data: 7 de dezembro
Horário: 19h
Local: Auditório Prestes Maia da Câmara Municipal (Viaduto Jacareí, 100, 1º andar)
-- Segunda-feira (10/12) - A partir das 18horas, na Assembléia Legislativa de São Paulo (ALESP) - antes da entrega do XVI Prêmio Santos Dias 2012
Entrega do XVI Prêmio Santo Dias de DH - 10 de dezembro, às 20 horas, no Plenário Juscelino Kubitschek, na Assembléia Legislativa de São Paulo, a Sessão Solene para a entrega do XVI Prêmio Santo Dias.