Excelentíssimo
Cá sua licença! Excelentíssimo!Senhores promotores! Acusação!Testemunhas!
Peço licença prá interceder por minha defesa!
Ohhhhhhhhh!
O senhor não tem advogado?
Não! È só eu e deus!
Eu vim aqui por mim, pelos meus e pela justiça,
Desprovidos de direitos, de dinheiro e de justiça.
Sou réu confesso não nego, o que posso fazer,
Se o que fiz foi errado, então vieram me prender.
Educadamente pedi para que não me batessem,
Sou pai de família honrado, se é que me entende.
Desculpa aí as gírias, as palavras erradas,
Sou semi-analfabeto, pouco sei da vida letrada.
O motivo que me levou ao furto foi um só,
Tá ali as fraldas e a lata de leite em pó.
Necessidade é verdade, excelentíssimo,
Pensa no seu filho chorando, excelentíssimo.
Tô desempregado e a mulher está doente,
Até cato um papelão prá descolar prá gente.
Um dinheiro, alguma comida que seja,
Só ultimamente a situação não tem sido a mesma.
Nordestino, preto, o sinhô sabe como é,
Sem endereço, sem apreço, só mais um Zé.
Refugiado é a situação desse cidadão, no barraco
Sem saneamento, sem água, sem ventilação.
Olhem aqui minha carteira de trabalho,
Veja excelentíssimo, veja como é de fato.
Ei acusação, leia para nós a primeira página,
Por favor, sinhô, leia em voz alta.
( )
Tá bom prá mim acho que basta,
Então meu povo o que vocês acha.
Cadê meu emprego garantido pelos direitos humanos,
Cadê o estado quando mais precisamos.
Minha família está excluída de tudo,
Meu fio chora sem saber que veio ao mundo.
O que vocês esperam de mim, sinceramente.
O que vocês querem exigir de mim, sinceramente.
Quem já passou fome aqui, levante a mão,
Quem já passou fome aqui, levante a mão.
È pelo jeito, só eu levantei a mão.
Olhe nos meus olhos enquanto eu me advogo,
Somente pela justiça é que agora eu rogo.
Minhas roupas são velhas, meus gestos são toscos,
Meu cabelo é grande, tenho barba no rosto.
Algemado estou, me sinto desrespeitado,
Qual foi o crime prá eu ser assim algemado.
Me prendam, mas não sintam remorsos de mim,
Minha família, apenas ela é que espera por mim.
Sei que o caminho da felicidade é a volta prá casa,
Lá terei aconchego de angelicais asas.
Que a justiça seja feita, com reclusão ou não,
Prá vocês aqui está é a minha versão.
Sou visto como um perigo prá sociedade,
Calo na mão e de havaiana pela cidade.
Apenas não participo dessa sociedade de consumo,
Sou mais um brasileiro, preso, excluído de tudo.
Obrigado pela atenção, por me ouvirem e por me deixarem me defender,
Em nome da minha família, Malcolm Andrade da Silva,
Daniela Pereira Andrade da Silva e eu José Andrade da silva.
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