quarta-feira, julho 28, 2010

Excelentíssimo por Fanti Manumilde


Excelentíssimo

Cá sua licença! Excelentíssimo!Senhores promotores! Acusação!Testemunhas!

Peço licença prá interceder por minha defesa!

Ohhhhhhhhh!

O senhor não tem advogado?

Não! È só eu e deus!

Eu vim aqui por mim, pelos meus e pela justiça,

Desprovidos de direitos, de dinheiro e de justiça.

Sou réu confesso não nego, o que posso fazer,

Se o que fiz foi errado, então vieram me prender.

Educadamente pedi para que não me batessem,

Sou pai de família honrado, se é que me entende.

Desculpa aí as gírias, as palavras erradas,

Sou semi-analfabeto, pouco sei da vida letrada.

O motivo que me levou ao furto foi um só,

Tá ali as fraldas e a lata de leite em pó.

Necessidade é verdade, excelentíssimo,

Pensa no seu filho chorando, excelentíssimo.

Tô desempregado e a mulher está doente,

Até cato um papelão prá descolar prá gente.

Um dinheiro, alguma comida que seja,

Só ultimamente a situação não tem sido a mesma.

Nordestino, preto, o sinhô sabe como é,

Sem endereço, sem apreço, só mais um Zé.

Refugiado é a situação desse cidadão, no barraco

Sem saneamento, sem água, sem ventilação.

Olhem aqui minha carteira de trabalho,

Veja excelentíssimo, veja como é de fato.

Ei acusação, leia para nós a primeira página,

Por favor, sinhô, leia em voz alta.

( )

Tá bom prá mim acho que basta,

Então meu povo o que vocês acha.

Cadê meu emprego garantido pelos direitos humanos,

Cadê o estado quando mais precisamos.

Minha família está excluída de tudo,

Meu fio chora sem saber que veio ao mundo.

O que vocês esperam de mim, sinceramente.

O que vocês querem exigir de mim, sinceramente.

Quem já passou fome aqui, levante a mão,

Quem já passou fome aqui, levante a mão.

È pelo jeito, só eu levantei a mão.

Olhe nos meus olhos enquanto eu me advogo,

Somente pela justiça é que agora eu rogo.

Minhas roupas são velhas, meus gestos são toscos,

Meu cabelo é grande, tenho barba no rosto.

Algemado estou, me sinto desrespeitado,

Qual foi o crime prá eu ser assim algemado.

Me prendam, mas não sintam remorsos de mim,

Minha família, apenas ela é que espera por mim.

Sei que o caminho da felicidade é a volta prá casa,

Lá terei aconchego de angelicais asas.

Que a justiça seja feita, com reclusão ou não,

Prá vocês aqui está é a minha versão.

Sou visto como um perigo prá sociedade,

Calo na mão e de havaiana pela cidade.

Apenas não participo dessa sociedade de consumo,

Sou mais um brasileiro, preso, excluído de tudo.

Obrigado pela atenção, por me ouvirem e por me deixarem me defender,

Em nome da minha família, Malcolm Andrade da Silva,

Daniela Pereira Andrade da Silva e eu José Andrade da silva.

www.myspace.com/fantisolo

www.twitter.com/FANTIMANUMILDE



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