sexta-feira, janeiro 25, 2013

FÉRIAS - PRÉVIA DO MEU LIVRO DE CONTOS


Férias

_ É Dondom... Eu gosto mesmo é de ficar olhando pro céu, sabe? Acho muito da hora, se fosse por mim eu ficaria horas e horas, só observando o infinito, as nuvens com suas formas e outras coisas que possam aparecer!
_ Tipo o que Jé? Um disco voador? Há, há,há!
_ Vai saber! De repente né? Já pensou? “Nóis” e aparece um negócio estranho lá no alto, ia ser o maior barato!
_ É verdade, ninguém ia acreditar!
_ É isso aí Dom! E aí meu, passou de ano?
_ Passei sim, diretão, não fiquei em nenhuma matéria, graças a Deus. Meus pais falaram que vão me dar um presente, não sei o que é, espero que seja legal.
_ Eu também passei direto, acho que vamos pra praia, na excursão do Valmir, se você quiser ir com a gente eu falo pro meu pai falar pro seu deixar você ir com a gente!
_ Demorou Jé, acho que vou sim, depois a gente vai lá em casa ver essas paradas!
_Tudo bem! Nossa! Olha lá aquelas nuvens!! Ó o formato delas, parece uma bomba atômica explodindo, tipo um cogumelo, igual o que eu vi na aula de ciências do professor Dirceu.
­­_ Vixe, mas não é que é mesmo, é enorme, que louco! Aí qual será o tamanho dessa nuvem ai hein meu?
_ Sei lá mano, isso não da pra saber não, é muita nuvem!! Cê é louco! Risos.
Os meninos estavam viajando na maionese, olhando para o céu. As férias se fazia presente e ali era o momento merecido dos meninos depois de um ano letivo daqueles, eles curtiam o primeiro da famigerada e valiosa...
Parecia levitarem da realidade, sorriam se motivo aparente, sérios, contudo os olhos denunciavam a alegria. Talvez nem percebessem tudo aquilo, talvez o magnetismo do momento falasse por si só, ainda existia estudantes, eu disse estudantes.
Enquanto estavam sentados no alto do morro, com a cidade de São Paulo aos seus pés, ou melhor, ao alcance de suas vistas, mesmo uma cidade com todos os problemas; todas suas virtudes, todo o seu ritmo frenético de uma cidade grande; os dois garotos estavam ali no morro, sentindo a brisa soprar suavemente, num simples entardecer.
No pé do morro a comunidade, bem agitada por sinal. O campão já quase todo tomado por diversas crianças, todas também curtindo o primeiro dia de férias. Brincando todo tipo de brincadeira possível e cada grupinho de curumins uma arteirice se destacava, era pulando amarelinha, rouba bandeira, pega-pega, pique esconde, outros meninos rodavam pião, jogavam bolinha de gude, erguiam seus pipas, de cores e tamanhos diferentes.
Uns gostavam mesmo do bom e velho futebol. Três dentro três fora, rebatida, golzinho, linha e por ai vai. Muita brincadeira mesmo. O campo de terra vermelha que aos finais de semana era dos marmanjos baterem sua pelada, as crianças tinha tomado conta.
Céu azul, nuvens faziam firulas, deslizavam suavemente ao sabor do vento. Parecia de propósito os formatos que iam surgindo, para a alegria dos meninos, sempre tentando decifrar as imagens, dão asas à imaginação.
O tempo passou rápido e o aspecto do céu foi tomando outra característica, das lajes da comunidade, do campo do Bahia, do campo do Carioca, da rua de baixo, do terreno da Petrobrás, da outra comunidade, enfim de todos os cantos possíveis, foram surgindo pipas, parecia algo combinado, todos ao mesmo tempo, mas não, era de praxe de tardinha com céu e ventos favoráveis, era a brincadeira preferida da molecada da periferia.
Qual um enxame de abelhas, pipas iam ziguezagueando, enfeitando os ares, quase embarrando no morro, desbicando, descendo retão, dando corta vento, laçando etc. Vários eram mandados, e tome menino correndo atrás desembestados olhando pra cima.
Tinha pipa de todo jeito, quadrado, peixinho, arraia, capuxeta, carioquinha, barraca, até uma sacola apareceu querendo laçar com os outros.
_Nossa mano, quanto pipa! Nunca vi desse jeito. E ai já comprou linha já Jé?
_Pode crer Don, ainda não, tô meio sem grana, mas vou ver se descolo com minha mãe uma merreca pra comprar uns carretel dos grandes pra gente!
_Valeu mesmo mano! Pode deixar que eu faço o cerol e corto uma fitinhas de rabiola, lá em casa tem um monte de saco de lixo.
_Fechou irmãozinho! Nossa!!! Deu embolêra ali Don, que loucura, os caras puxam rápido demais!!
_mano nunca vi tanto pipa. Depois a gente vem empinar daqui do alto do morro pra só ficar amparando os que vem mandados.
_É isso mesmo. Primeiro dia de férias e jé está assim, imagina quando os moleques que estão de recuperação passarem de ano, o céu vai congestionar de quadrado.
_Falou e disse Jé, mas não é quadrado não moleque é pipa mano!! Vamos fazer um tempo por aqui pra ver se a gente pega uns pra empinar amanhã.
_Demorou seu xarope!
Aquela imagem panorâmica daria uma bela foto, porém ali não existia nenhuma máquina fotográfica, e sim olhares atentos; dos meninos, atentos a cada movimento, registrando tudo e guardando no inconsciente. Vorazes brinquedos alados, mais um rélo, coração acelerado, vontade incontrolável de correr e de repente o grito:
_Mandado Jé, corre meu, corre!!
_Calma ai Don, deixa eu calçar meu chinelo! Nossa cheião da linha!!!

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